10.11.08

ÚLTIMA PARADA 174

Tavinhu assistindo sentado

Mais um filme brasileiro. E esse se não fosse toda a repercussão de tocar novamente no assunto do assalto ao ônibus 174, o filme de Bruno Barreto ainda será o representante brasileiro na disputa pela indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Por isso tudo não pude deixar de assistir, afinal certamente tanto o assunto quanto o filme provocam muitas discussões.

Talvez a mais importante delas, é que essa obra de ficção (diferente do documentário de José Padilha, que inclusive originou essa película) mostra a trajetória de Sandro Dias até o dia fatídico, o que justifica o nome de “última parada”. O diretor tenta mostrar a vida do personagem principal dessa história marcada por violências comuns em nossa cidade. Como sobrevivente da chacina da candelária, Sandro tinha tudo para ser um personagem vitimizado no filme – como se o fato final ocorrido tivesse sido gerado pela mesma sociedade que excluiu o autor dos momentos de terror transmitidos ao vivo pela TV.

Mas, ao contrário do que alguns críticos alegam, a narrativa conseguiu render humanidade a Sandro, que oscila entre momentos que é aquele menino que chora ao perder a mãe cedo e sonha em conhecer Copacabana e uma pessoa, que apesar de algumas oportunidades oferecidas de resgate de sua vida, prefere entregar-se aos métodos mais violentos. Não cabe a mim, e não vejo intenção alguma no autor em distinguir qual realidade o personagem se encaixa melhor, e muito menos justificar ou acusá-lo pelos seus atos. É apenas uma narrativa que descreve de forma rotineira a dualidade de um ser humano.

Por isso o filme se torna interessante, pois nos faz refletir de forma mais profunda sobre um fato verídico e seus desdobramentos. Mas, aí cabe a observação que não por isso se enquadraria em um filme para disputar o Oscar. A famosa academia já deu mostras que filmes que apenas apontam mazelas da sociedade passam longe de ser premiados, e somente se a isso fosse dado doses cavalares de lirismo poderia ter alguma chance de sair com a tão sonhada estatueta.

Cabe ainda uma observação especial sobre Michel Gomes, ator principal da trama, que encara com excelente atuação todas as dificuldades de encarnar um personagem complexo a esse ponto (mesmo que o ator venha de uma realidade parecida com a do personagem). As cenas finais, que boa parte de nós acompanhou ao vivo pela TV prima pela excelência nos detalhes e nos transporta à realidade vivida naquele junho de 2000.

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